"O Nordeste que hoje é chamado de burro já votou no PSDB. Quem viveu os anos 80 e 90 de fome, escassez de alimentos, falta de oportunidades, sem estrada, sem energia elétrica, sem nada, vivendo como se vive numa capoeira velha. A gente via o filho dos ricos saindo da cidade para se formar. A gente olhava para os nossos e tudo que a gente podia era só pedir a Deus para não morrer de fome, mandando chuva. Quando a chuva não vinha a gente espalhava nossos filhos nas casas dos ricos. Lá eles eram humilhados, maltratados, estuprados. Mas pelo menos não morria de fome. Os maridos iam para o sul e muitas de nós nunca mais os vimos. Foi assim até que Lula chegou à Presidência. Uma revolução pacífica e silenciosa aconteceu aqui. O marido tinha emprego aqui. Se não tinha chuva tinha poço e cisterna. Nossos filhos não precisavam mais ir pra casa alheia, porque nós tínhamos que botar na escola para poder ter direito ao Bolsa Família. Nossos filhos chegaram à Universidade junto com os filhos dos ricos. Um monte de doutor e doutora. Acabou a pena. Nasceu um orgulho de nós e deles. Quem não viveu isso ou não estudou a nossa história acha que votamos como gado. Pelo contrário. Nós votamos com consciência. Nós sabemos quem nos deu oportunidade de viver outra realidade. Mas muitos de nós ainda não conseguiram. Ainda lutam e o que nós queremos é completar a revolução. Só que nós sabemos que o modelo AZUL de Brasil mata a gente de fome. E fome dói. Só sabe quem já passou e venceu. Vocês nunca vão entender. Mas vocês tem que respeitar".
Angelica Araújo Queiroz
Doutora em Agronomia pela UFU
Nordestina de Araripina-PE
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