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terça-feira, 19 de junho de 2018

ESGOTO NO JARDIM DO SABER: O TRATAMENTO PRIMÁRIO DAS FOSSAS DA UESC


A torre administrativa da UESC e o córrego dentro da universidade.

Reportagem Thiago Dias.

Essa é a história de uma contradição. A Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) é o seu palco. Sob o jardim onde o saber é cultivado e cultuado, escorre a sujeira das nossas entranhas. A beleza na superfície do Campus Soane Nazaré, encravado em parte do que restou da Mata Atlântica, contrasta com a paisagem subterrânea do mecanismo de tratamento de esgoto primário dos seus prédios, que usam fossas individuais ligadas a sumidouros. O Blog do Gusmão é o primeiro veículo de imprensa a discutir esse assunto.

O sistema de tratamento da UESC é o mesmo há 32 anos, desde os tempos da antiga FESP (Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna), conforme nos explicaram o prefeito do Campus Soane Nazaré, Edmundo Ramos Pereira Filho, e o assessor de comunicação da universidade, Jonildo Glória, numa conversa em dezembro de 2017.

A universidade “ainda usa uma sistemática que era a da época, com um tratamento individualizado por prédio, o tratamento primário: o sumidouro e aquela manutenção periódica de retirada dos resíduos sólidos e limpeza. Essa é a solução que foi aprovada na época e que existe até hoje”, esclareceu o prefeito.

A nosso pedido, Edmundo deu mais detalhes sobre o tratamento da UESC. “A fossa faz a separação do sólido e do líquido e cria o chamado lodo, que é retirado, sugado e descartado adequadamente. Ele é retirado por um caminhão de vácuo-pressão, que injeta a mangueira e aspira os sólidos. Não leva o líquido, porque só o lodo fica preso na fossa. O líquido continua. Aí é que vem o sumidouro, que é o dispositivo por onde esse líquido do esgoto é infiltrado no solo. Isso é tudo calculado direitinho. É um sistema que infiltra o efluente sanitário no solo”.


O arquiteto Edmundo Ramos Pereira Filho, prefeito do Campus Soane Nazaré.

Segundo Ramos, como a UESC não tem “nenhuma captação de água do subsolo para uso potável, não há nenhum risco dessa infiltração [do esgoto na terra] contaminar com patógenos uma água que seja retirada para outra utilização”.

Perguntamos ao prefeito se esse tipo de mecanismo ameaça o lençol freático. Ele respondeu com um exemplo. “Quando você faz uma fossa na sua casa, não deve colocar nenhum poço artesiano a menos de quatorze metros desse sumidouro. Por quê? Essa infiltração vai sendo esterilizada quando vai passando no solo, mas ela mantém seu poder contaminante num determinado raio. Isso tudo é calculado no projeto. Na medida em que você vai construindo mais, adensando e colocando mais sumidouros, começa a ter a possibilidade de saturar. Mas essa é uma contaminação de orgânicos, que são [materiais] degradáveis”.

Contudo, Edmundo Ramos admitiu que a UESC não monitora periodicamente as condições dos sumidouros. “Mas foram feitas algumas análises para finalidades específicas, não como um programa de monitoramento. Não se apresentou nenhum problema maior”, explicou.


Água do córrego que corta a UESC é muito suja.

Se as fossas da UESC não apresentaram nenhum problema maior, a falta de monitoramento periódico não é um bom sinal. Essa é a opinião de um especialista consultado pelo blog, o engenheiro ambiental Alex Magalhães. Ele aceitou falar em tese sobre o mecanismo usado na universidade. “Qualquer equipamento utilizado para o tratamento de efluentes necessita de operação e monitoramento. Sem esse acompanhamento é possível a alteração no meio ambiente, causando o impacto diretamente no solo, lençol freático, nos recursos hídricos, no ar e podendo causar também doenças nos animais e seres humanos”.

Nas últimas três décadas, à medida que construiu novos prédios, a UESC aumentou também a instalação das fossas para dar conta do volume de esgoto produzido por seus habitantes. Segundo o assessor Jonildo Glória, entre estudantes (que são cerca de nove mil), professores e demais funcionários, o Campus Soane Nazaré recebe aproximadamente doze mil pessoas por dia. Na ocasião da conversa com o blog, o prefeito não tinha o levantamento da quantidade de efluentes sanitários gerada na universidade.


UESC não monitora condições dos sumidouros por onde escorrem os efluentes sanitários produzidos por quase doze mil pessoas. Imagem: José Nazal.

Perguntamos se algum dos sumidouros já emitiu sinal de que se aproxima da saturação. “Não. Para fazer o levantamento desse projeto nós vamos ter que mergulhar nos detalhes. Nós fizemos o cadastramento de todos os prédios. Com o passar do tempo, os prédios foram se modificando. A área que era estacionamento virou garagem, sala de aula. As salas foram reformadas para absorver laboratórios. Enfim: mil mudanças. As plantas originais não batiam com a realidade atual. Para fazer qualquer projeto, de qualquer natureza, a gente precisava disso atualizado, inclusive para poder quantificar a população que usa cada prédio, o que também implica na demanda de esgotamento sanitário”, respondeu Edmundo Santos.

Como a própria UESC não monitora as condições dos seus sumidouros e, portanto, não tem controle sobre a qualidade dos efluentes lançados no meio ambiente, é possível que, nos períodos chuvosos, o esgoto infiltrado no solo se junte às águas da chuva que correm para o rio Cachoeira. Essa possibilidade torna-se muito provável por causa do córrego que atravessa o campus, cuja aparência demonstra sinais de poluição.


O rio Cachoeira, que passa em frente ao Campus Soane Nazaré.

Ouvimos uma enfermeira que estudou na instituição a partir de 1996. Segundo ela, há muito tempo já se sabe que as fossas da universidade contaminam o solo e seus efluentes chegam ao rio Cachoeira. “Isso é uma coisa que é de conhecimento da UESC há vinte anos. A professora de parasitologia da época já falava sobre isso. E nunca foi feito nada para evitar esse tipo de coisa, que prejudica e afeta a comunidade do Salobrinho, que faz uso do rio para banho e pesca”.

É óbvio que o rio Cachoeira recebe muitos efluentes de Itabuna, cidade que trata menos de 20% do esgoto doméstico gerado por suas residências. A questão em si diz respeito à UESC, que, por ser um centro de pesquisa científica, jamais poderia aumentar o nível de poluição do rio.


Galinhas se alimentam no córrego que atravessa a UESC e chega numa propriedade privada.

De acordo com o engenheiro Alex Magalhães, no mundo de hoje, não faz sentido dispensar a água que utilizamos, nem mesmo a do vaso sanitário, como ocorre na UESC. “Atualmente, não existe mais o pensamento de se jogar o esgoto no solo, pois, com a escassez dos recursos hídricos, torna-se necessário o reuso das águas”.

Como a Universidade Estadual de Santa Cruz é um centro de formação e pesquisa muito importante para o Sul da Bahia, referência do potencial de desenvolvimento da região, questionamos ao prefeito do Campus se a discussão sobre as soluções para o tratamento do esgoto da universidade não está atrasada. “Eu não sei avaliar isso com muita segurança, mas, eu lhe digo que existem vários complexos de edificações institucionais Bahia à fora, Brasil à fora, mais antigos e que permanecem até hoje com esse tipo de solução e que atendem perfeitamente”, respondeu Edmundo Ramos.

O prefeito, entretanto, sabe que a UESC precisa passar por uma mudança de “paradigma” no modo como lida com seu esgoto. Na opinião dele, isso passa pela implementação de um sistema de esgotamento sanitário que contemple todo o Salobrinho, bairro de Ilhéus onde fica o Campus Soane Nazaré. “Por que nós estamos pensando hoje em desenvolver isso? Não é que vai chegar semana que vem, mês que vem, nem ano que vem, e se fazer um projeto de esgotamento sanitário. É que a mudança da concepção da solução requer um estudo apurado, e a escala exige que seja feito sob a ótica do município”, argumentou.

Edmundo Ramos acredita que uma solução integrada para o Salobrinho e a UESC deve envolver a Embasa. Hoje, a concessionária recolhe o esgoto de apenas 40% das residências do bairro. Esse percentual não inclui a universidade, que, como já dito, usa as fossas individualizadas.

Quem anda frequentemente nos arredores ou dentro da UESC já notou um córrego que atravessa o campus. A água dele é muito suja. Ramos atribui a origem dessa sujeira às ligações clandestinas de esgoto de parte das casas do Salobrinho. “Você sabe que num bairro pobre, sem infraestrutura de esgoto, todo mundo joga na via pluvial”.

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